sábado, 2 de julho de 2011

Novos Povoadores não têm lugar em Mondim de Basto

"Deste modo, as cidades médias podem afirmar-se como espaços de qualidade de vida, dotados de infra-estruturas e com uma proximidade ao meio natural que não existe noutras zonas do território."

Cavaco Silva aproveitou o 10 de Junho de 2011 (talvez tardiamente, mas sem retirar o mérito de o ter feito) para colocar o despovoamento do interior na agenda das questões nacionais.

A RTP e a TSF não tiveram dúvidas e procuraram logo ouvir os dinamizadores do projecto "Novos Povoadores" (NP). Entenderam ambos, que este projecto, não sendo obviamente a solução em si para o problema levantado, era o que melhor contribuía, de uma forma simples e imediata, como exemplo de combate à desertificação. Entenderam, que no seguimento do desafio lançado pelo Presidente da República, para as suas reportagens interessava ouvir um projecto que já trabalha para mediar duas vontades: a das gentes que querem vir para o interior, a das cidades e vilas do interior que os querem receber.

Frederico Lucas, um dos autores do projecto, é também ele um novo povoador, e talvez por isso mesmo, percebendo todos os benefícios desta mudança, decidiu juntamente com dois outros autores, levar avante esta ideia. Ao concretizar a ideia, reforça ainda mais as virtudes desta mudança bem sucedida: não só trouxe consigo o seu posto de trabalho, como desenvolveu na comunidade que o acolheu - Trancoso - um verdadeiro projecto de empreendedorismo.

Mondim, fruto da sua relação com a Fundação EDP, teve a oportunidade de receber o projecto NP. Seria juntamente com Alfândega da Fé um dos municípios pioneiros na sua dinamização, com tudo o que o pioneirismo acarreta. O risco no entanto, era diminuto, até mesmo nulo: dos 3.500,00 que empresa NP cobra (para suportar os serviços de selecção das famílias, por entre as 443 inscritas, recolocação e mudança para o novo município e formação em empreendedorismo, nenhuma verba é entregue aos candidatos), 2.900,00 Euros eram assumidos pela Fundação EDP, que apoia o projecto, ficando a autarquia com a responsabilidade de pagar 600,00 Euros em caso de sucesso.

Remetido a reunião de Câmara, o proposta foi chumbada pela oposição CDS-PP e PSD, com distintos argumentos. Na última assembleia municipal, sem estar em causa qualquer decisão sobre o processo já que o mesmo havia sido chumbado em reunião de Câmara, o mesmo voltou a ser abordado e os argumentos de novo esgrimidos.

O argumento mais ouvido foi: "Em vez de apostar em Novos Povoadores devemos apostar na fixação das pessoas que cá estão." Argumento bem popular por sinal! Alegam, como se em cima da mesa estivesse uma ou outra opção. Como se não fosse possível trabalhar ambas as questões ao mesmo tempo. Pior que isso, como se ambas as questões não estivessem inevitavelmente ligadas. Se visto de uma forma economicista, uma família instalada, representa o mesmo que umas largas dezenas de turistas em visita. É mais uma família a comprar ou a alugar alojamento em Mondim, a fazer as suas compras em Mondim, a usufruir de toda a oferta de serviços em Mondim, a colocar os seus filhos nos infantários e escolas de Mondim, a desenvolver uma nova actividade em Mondim. Tudo isto em 365 dias por ano. Não será isto contribuir para a fixação dos que cá vivem?

Novas pessoas significam também novas ideias. Desconheço sociedades que tenham perdido à medida que ganham em pluralidade e diversidade. Mondim não foge regra, e mesmo sem mediação, tem também os seus bons exemplos de novos povoadores. Quantos seríamos, e o que seríamos hoje se assim não fosse.

Alfandega da Fé, assumindo o espírito da iniciativa, que dará prioridade a famílias em que o seu posto de trabalho será sustentável via tele-trabalho, anunciou que para além do acordado, disponibilizará condições para os novos povoadores - gabinete com Internet. As terras do Barroso, associaram o seu projecto de Incubadoras aos Novos Povoadores.

Mondim, incompreensivelmente, até porque em caso de insucesso não teria qualquer despesa associada, decidiu recusar esta oportunidade. Faz crer, que a desertificação a que estamos votados, não será só culpa da nossa localização geográfica.